A QUESTÃO DOS VEGETAIS
Vegetarianismo

A QUESTÃO DOS VEGETAIS



Por Silvana Sita
Engenheira Ambiental
Membro da Sociedade Vegetariana Brasileira


"Quem, vegetariano, já não ouviu a clássica pergunta: e os vegetais, você também os come, porque você não sente pena deles, eles também sofrem? Esse argumento é muito utilizado por onívoros, que querem achar uma desculpa para continuar a comer carne e põem a culpa nos vegetais. Embora quase todos, para não dizer todos, não acreditem que os vegetais possam sofrer, ou que fiquem sinceramente abalados, nas tantas discussões com que me deparei na minha vida vegetariana, esse foi o argumento mais usado por carnívoros para continuarem a matar todo e qualquer ser para se alimentar, menos, é claro, seres humanos.

Mesmo sabendo o quão hipócrita pode ser lançar mão desse argumento, vamos estudá-lo a fundo, pois mesmo vegetarianos têm suas dúvidas quanto à resposta que dão a esse tipo de colocação.

Bom, atualmente não temos nenhum estudo conclusivo sobre a sensibilidade dos vegetais, mais por falta de interesse no assunto do que por falta de recursos para tanto. O que sabemos ainda sobre o assunto são deduções grotescas.
Para entender isso, temos que nos lembrar do conceito de dor, afinal, para que serve a dor? Nós, seres humanos e animais, sentimos a dor através de nosso sistema nervoso, na verdade, o nosso sistema nervoso é a nossa consciência da dor.
Essa sensação que é tão desagradável e muitas vezes insuportável, nada mais é do que um “luxo” do nosso cérebro, mas um luxo do bem. Isso serve para nos alertar que estamos em risco de vida, que há uma agressão ao nosso organismo.
Tendo consciência disso, podemos, então, fugir, nos esconder, gritar, pedir ajuda, lutar para que a nossa vida seja preservada. Se não pudéssemos fugir da dor, se não pudéssemos lutar pela nossa vida de forma que quando encostássemos o nosso dedo no fogo não pudéssemos tirá-lo daquele local porque então haveríamos de sentir dor?

Os vegetais se locomovem sim, eles não apenas crescem, como também podem desenvolver deslocamento lateral, mas nada que possa fazê-los realmente fugir de alguma agressão.
Uma árvore é tão indefesa perante a um macaco, que este pode arrancar todas as suas folhas que ela nada pode fazer.
Nesse caso poderíamos nos perguntar: do que adiantaria um vegetal sentir dor se nada pode fazer para evitá-la?
Mas isso é somente uma dedução grotesca do que chamamos de lógica da natureza. Se mesmo assim os vegetais sentissem dor, por uma razão que é ainda desconhecida por nós, e daí o que fazemos?

A questão está em causar menos sofrimento. Alguma coisa ainda temos que comer.
A descoberta de que vegetais também sentem dor não fará que vegetarianos voltem a ser onívoros, muito menos que passem a só consumir carne.
       
Nos esquecemos neste ponto que para se criar um boi, um porco ou uma galinha você precisa fornecer alimento para eles.
Quando o animal se alimenta, todos os vegetais que ele consome não vão só armazenar nutrientes em seus tecidos, mas o animal gasta energia também para se locomover, lamber, digerir, respirar, bombear sangue, virar a cabeça, piscar os olhos.
Ou seja, ao se alimentar de outro animal você mata mais vegetais do que se alimentar diretamente deles.
Mesmo sem ter muitos estudos da sensibilidade dos vegetais, temos a certeza que ela não é igual a de um animal.
No caso de eles possuírem o sentido de dor, podemos considerá-lo bem mais precário que a sensibilidade que os animais possuem, sendo muito mais grave matar um animal mais sensível a um vegetal, não que este desmereça consideração.

Para onívoros que lançam primeiro o argumento que animais não sentem dor e depois vem com esse dos vegetais, nem tem o que mais se aprofundar no assunto.
Mas você, se realmente ficou preocupado em matar vegetais para se alimentar, admito que minto quando falei que alguma coisa temos que comer.
Sim, realmente alguma coisa temos que comer, ainda não vivemos sem comer, embora algumas pessoas afirmem que vivem de luz.
Mas o que quero dizer é que podemos, sim, viver sem matar vegetais.
Existe um tipo de dieta que considera o sofrimento vegetal na hora de se alimentar.
Esses são os frugívoros, que se alimentam somente de frutas.
Se você parar para pensar, vemos que as frutas foram criadas pelos vegetais apenas com o propósito de disseminação de suas sementes.
Elas são coloridas, cheirosas, gostosas, apenas para atrair os animais de todo tipo e ao se alimentarem deste fruto disseminar a sua semente como resto alimentar.
Depois de maduro, o fruto não serve mais para a semente, e esta, sem o fruto em sua volta, crescerá mais depressa, pois pegará mais sol e terá mais espaço livre.
Podemos então considerar que os frutos são um presente das plantas para nós, que pedem em troca que disseminemos as suas sementes.
Tem-se idéia que algumas pessoas vivem a base dessa dieta, mas não há nenhum estudo conclusivo a respeito do seu aspecto nutricional sobre o indivíduo.
O caminho para essa nova dieta tem que ser aberto por aqueles que estão dispostos a sofrer as conseqüências que ela pode causar, e servir de prova, caso ela seja realmente viável, para os próximos que queiram segui-la.

A hipótese de que os vegetais sintam dor não é argumento para que se consuma carne e sim para que se pense mais sobre o assunto e siga o caminho que achar mais coerente.

Continuar a matar animais porque você acha que não pode deixar de matar vegetais, é se integrar ao comodismo e ao apelo das desculpas para os atos errôneos. "


Fonte: SVB POA

Palavras da filósofa Sônia Teresinha Felipe:
”…os frutos, os cereais, as sementes e os grãos, embora estejam vivos, no sentido de
que mantém processos físico-químicos de produção e absorção de energéticos, não são vivos
no mesmo sentido em que os animais . O que lhes acontece passa imediatamente em seu
sistema orgânico, não restando lugar do processo qualquer imagem ligada a emoções,
pensamento e consciência(…) Se não comemos os vegetais maduros, ou frutos grãos e
sementes, sua energia vital não será aproveitada de qualquer modo, no máximo pode nutrir o
solo. O mesmo não se pode pensar dos animais que matamos. Se precisamos matá-los é
porque não tinham ainda concluído seu processo vital.”




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