Respostas para as perguntas mais frequentes recebidas no blog
Vegetarianismo

Respostas para as perguntas mais frequentes recebidas no blog


Devido à frequência com que venho recebendo e-mails sobre tópicos similares, achei que seria interessante fazer um post abordando essas questões na forma de um FAQ. Acredito que essas são dúvidas comuns de quem está iniciando no veganismo/vegetarianismo e as respostas podem ser úteis para ajudar a esclarecer alguns dilemas do veganismo:


1. Como você lida com a questão dos remédios, vacinas e anticoncepcionais dentro da ética do veganismo? 


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Antes de começar a responder, gostaria de deixar a definição de veganismo de acordo com a The Vegan Society: "o veganismo é um modo de vida que procura excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e de crueldade para com os animais, como comida, roupa ou qualquer outra finalidade".

Na maioria dos países os medicamentos tem de passar por testes de segurança antes de poderem ser comercializados e esses testes são realizados em animais. No Brasil a Avisa exige que todos os remédios, inclusive os fitoterápicos, sejam submetidos a testes em animais. Dessa forma, nenhum remédio é vegano. Mesmo se você encontrar uma pílula anticoncepcional que não contenha gelatina ou lactose, elas terão sido testadas em animais. A legislação atual exige. Se você precisa tomar remédios alopáticos, não existe atualmente nenhuma alternativa prática para tomar estes medicamentos de forma livre de crueldade. 

No entanto, é importante lembrar que não é porque hoje não existem remédios veganos que eles nunca existirão. Existem pesquisas em andamento para substituir os métodos in vivo por aqueles que não usam animais. Enquanto não houver alternativas, não é possível para nós veganos fugirmos dos remédios. Algumas vezes na vida, teremos que usar antibióticos, antialérgicos, analgésicos etc. Mas não é porque abrimos uma exceção, que somos hipócritas ou, já que não somos 100% veganos o tempo todo, o correto seria abandonarmos o veganismo. Fazemos o máximo que podemos para minimizar o nosso impacto na vida dos animais. Não vivemos em uma sociedade vegana ainda.

Eu não me sinto confortável financiando a indústria farmacêutica, mas não é porque sou contra testes em animais, que nunca tomarei remédios e nem direi às pessoas que façam isso. Há certas situações em que não temos como fugir. Enquanto não existir alternativa de remédios não testados, a única solução que nos resta é usar os testados. Fazemos o que está ao nosso alcance: já existem cosméticos, alimentos, produtos de limpeza e higiene não testados em animais e é nossa obrigação ética boicotar as marcas que ainda testam. Com os remédios ainda não temos opções e se precisamos deles para melhorar nossa saúde ou nossa qualidade de vida, não dá para fugir.

Em termos práticos, nas situações menos graves é possível conversar com o médico e solicitar alternativas, como os remédios manipulados em cápsulas vegetais, uso de ervas medicinais etc.

O dilema das vacinas também se encontra na mesma situação: as vacinas contém ingredientes de origem animal como derivados bovinos (células, gelatina) e clara de ovo, além de serem testadas à exaustão em animais. Mas se não nos vacinarmos, corremos o risco de ter algum tipo de paralisia, sarampo, coqueluche etc. Nesse caso, assim como o uso de remédios, nossa saúde entra em jogo e também não existem formas veganas de nos prevenirmos dessas doenças.

O uso do anticoncepcional para mim é bastante similar ao dos remédios: é questão de saúde e não cabe a mim opinar sobre a escolha de cada um. Existem métodos veganos de contraceptivos como algumas camisinhas, mas não podemos negar que as pílulas são mais eficazes e melhoram a vida de muitas mulheres em vários aspectos, principalmente as que possuem problemas nos ovários e as que não querem correr o risco de engravidar.

Sobre a pergunta: "Mas não é hipocrisia defender o veganismo e tomar remédios testados em animais?" Seguindo essa lógica, se você é contra a exploração humana e compra produtos eletrônicos provenientes de trabalho escravo de países asiáticos, está sendo hipócrita também. Tanto na situação dos remédios como na escolha da origem dos nossos produtos eletrônicos, a escolha foge do nosso controle. Não há outra opção. Portanto não tem nada de hipocrisia em nenhuma das situações. Hipocrisia seria se houvesse uma opção vegana e eu tivesse optado pela não vegana, mas não é o caso.

Posso resumir a situação da seguinte forma: se há alternativa vegana, temos a obrigação ética de só consumir esses produtos. É assim com alimentação, vestuário, opções de entretenimento, etc. Se não há opção vegana e o produto é indispensável, como vacinas e remédios, não nos resta outra alternativa a não ser consumi-los, mas lutando para que tais produtos passem a ser produzidos sem exploração animal.

Recomendação de leitura:
http://www.institutoninarosa.org.br/site/experimentacao-animal/vivisseccao/em-testes/
http://www.anda.jor.br/10/03/2009/um-vegano-deve-usar-remedios 



2. "Os ingredientes X, Y ou Z são considerados tóxicos para o organismo. Logo, esse produto não tem nada de vegano..." ou "Você sabe me dizer uma marca de batom que não contenha chumbo"?


Fonte

Apesar de preferir consumir e usar produtos orgânicos e os considerados naturais por questões ambientais, eu não sou ortodoxa. Contanto que um produto seja vegano, ou seja, não pertença à uma marca que testa em animais, nem contenha ingredientes de origem animal, não vejo razões para boicotá-lo nem deixar de divulgá-lo no blog, caso eu perceba resultados positivos em mim. O mundo dos cosméticos e maquiagens veganas no Brasil ainda está engatinhando e o preço dos cosméticos orgânicos e naturais ainda não contempla o bolso de boa parte da população brasileira. Por isso não gosto de colocar milhares de empecilhos no uso de determinados cosméticos considerados veganos.

Há também controvérsias a respeito da suposta toxicidade dos cosméticos da forma como é divulgada. Posso mudar de ideia e ainda não fiz uma pesquisa a fundo, mas não acredito que usar um condicionador ou um blush com parabenos irá causar algum prejuízo à minha saúde no futuro. Aliás, se preocupar excessivamente com isso deve prejudicar mais nossa saúde. Nem tudo que é sintético é necessariamente ruim e nem tudo que é natural é necessariamente bom. Aliás, essa associação "natural-saudável, artificial-ruim" é bastante frequente, mas não há nenhum respaldo científico nessa afirmação. Cada um é livre para escolher usar produtos no próprio corpo, sendo ele "tóxico" à saúde ou não. O que não deveríamos é causar prejuízos a terceiros, ou seja, incentivar empresas que machucam animais no desenvolvimento de cosméticos.

Este excelente texto explica bem o que eu penso sobre esse assunto: "Porque spams de chumbo em batons nunca morrerão". Pesquisem sempre em fontes confiáveis como revistas científicas e especialistas.

Conclusão: Veganismo não é busca por saúde. Veganismo é uma postura ética em relação aos animais. E veganismo não é "naturebismo" (lembrando que eu não tenho nada contra quem é "natureba"). Batata frita, coxinha de jaca frita etc não são consideradas saudáveis mas não deixam de ser veganas.

3. Qual ração você recomenda para gatos?


Antes de mostrar as opções de rações para gatos, é importante lembrar que tanto gatos como cães foram domesticados há milênios. Eles foram retirados por nós de seu habitat natural, eram originalmente lobos (no caso dos cães) mas foram modificados geneticamente para atender padrões estéticos humanos e foram trazidos para centros urbanos, onde não conseguem sobreviver sozinhos na rua. Depois disso tudo, não dá para simplesmente abandonar um Pug na rua ou um gato persa no meio da floresta, mandar eles se virarem sozinhos e, quando eles não conseguirem e começarem a ter problemas (o que ocorrerá em 100% das vezes),  alegar "ah, mas é apenas a natureza agindo, seleção natural, não temos nenhuma obrigação moral com esses animais!". Dessa forma, temos a obrigação de salvar esses animais. Eles estão aqui por nossa causa e são 100% dependentes de nós. Não podemos mais "lavar as mãos" e deixá-los à própria sorte.

É por essa razão que não faz sentido falar sobre a "natureza" dos gatos. O termo é muito vago. Além disso, já impomos aos gatos uma vida não natural: viver em apartamentos telados/casas muradas cercadas por ruas e carros, comer ração, dar banho, remédios e vacinas etc. Fazer questão de dar uma alimentação "natural" aos gatos alegando "mas eles são naturalmente carnívoros!" enquanto nada mais neles é natural (vida, ambiente, genética, etc), não faz nenhum sentido. Além disso, a busca pela "alimentação natural" é irrelevante, já que o que importa para a saúde é a aborção dos nutrientes essenciais. De onde esses nutrientes vem (alimento natural ou artificial) pouco importa, contanto que venham.

Infelizmente ainda não existe uma ração vegetariana/vegana para gatos no Brasil - no dia que alguma ração vegana para gatos for lançada por aqui, pretendo ser uma das primeiras a comprar. Já existem várias marcas na Europa e Estados Unidos, porém a importação de ração é inviável. Nesse caso, hoje eu tento escolher a "menos pior". E por menos pior, leia-se: não pertence à uma empresa que testa em animais e não contém derivados de mamíferos. A minha recusa em comprar derivados de mamíferos não é especismo. Já que eu tenho que fazer uma escolha, eu prefiro evitar dar carne de vaca e porco e escolher as que contém somente peixe e frango. Não digo que a vida de peixes ou frangos não importe. Importam sim, e muito, afinal todos eles são sencientes, logo são merecedores de tratamento ético. No entanto, se eu tiver obrigatoriamente de escolher entre salvar um gato, um porco (indivíduo altamente inteligente) e um peixe (bem menos inteligente), fico com o porco, afinal a capacidade de sofrimento está ligada à inteligência do animal. Quanto mais inteligente, maior a percepção de si e do mundo, logo maior a capacidade de sofrimento. Sim, todos são sencientes, mas o senciente mais inteligente sofre mais do que o senciente menos inteligente.

Infelizmente, em relação a gatos, estamos nesse dilema. Temos a obrigação moral de ajudá-los, já que fomos nós que os colocamos nessa situação. No entanto, não há ração vegana no Brasil. Até que haja ração vegana no Brasil, me vejo obrigada a adotar a lógica do "least harm", ou seja, causar o menor dano possível dentro das circunstâncias. E comprar uma ração apenas com peixe para salvar gatos e não prejudicar porcos e bois me parece ser a saída menos danosa no momento.

A Royal Canin, a Whiskas, Eukanuba e outras testam em animais (fonte). Segundo o site do PEA, a Guabi não realiza testes e ela detém as seguintes empresas: Biriba, Faro, Fiel, Herói, Natural, Sabor e Vida / Cat Meal, Natural, Top Cat, Limpi Cat.







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